Emancipação Política de Lajedo/PE

A intenção de independência política de povoados e vilas geralmente se dá por fatores muito parecidos nos municípios brasileiros. Os mais comuns são o descaso por parte da administração do município a que pertence, o aumento da população local e a forte atividade econômica.

O descaso por parte da administração de Canhotinho e a forte atividade econômica do povoado de Lajedo foram os fatores primordiais para despertar na população local a intenção de alcançar a independência política.

Um exemplo do descaso com o povoado foi visto pelo jovem médico Antônio Dourado no ano de 1944. O doutor Dourado, como ficou depois conhecido na cidade, estava nas proximidades da atual Igreja Matriz de Santo Antônio esperando a chuva passar, quando presenciou um grave problema: a chuva arrastava muito entulho e restos mortais do cemitério, na época situado nas imediações da atual Avenida Dezenove de Maio. O problema foi ignorado por muitos anos pela administração de Canhotinho, mas Antônio Dourado, enquanto médico e preocupado com o problema, procurou o prefeito para narrar os acontecimentos e expôs o perigo que representavam à saúde pública dos moradores do povoado, pedindo solução para o problema.

Sem hesitar, o prefeito Eugênio Tavares de Miranda assegurou a construção de um novo cemitério na vila e lhe pediu para administrar a obra. Doutor Dourado aceitou a proposta. Um homem conhecido como Pai João doou o terreno para a construção do cemitério e o nomeou de Santo Inácio. O antigo cemitério foi demolido.

Esse acontecimento motivou Antônio Dourado a pleitear o cargo de prefeito de Canhotinho nas eleições de 1946. Se eleito, seria positivo para Lajedo, pois, com o prefeito residindo no povoado, este receberia uma atenção especial da administração municipal.

Antônio Dourado foi eleito. No entanto, seu adversário político conseguiu a impugnação da eleição com a anulação de duas urnas, revertendo, assim, o quadro político com uma diferença de quatro votos. Como estava a cargo do governador do estado nomear o prefeito eleito, sentindo-se prejudicado, Antônio Dourado procurou o governador Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho para explicar os acontecimentos. Barbosa Sobrinho, porém, aconselhou-o a não levar à frente seu empenho pela prefeitura de Canhotinho por se tratar de processo judicial muito complicado. Na verdade, orientou-o a trabalhar pela independência política de Lajedo.

Antônio de Sousa Vilaça, quando seminarista na cidade de Garanhuns, exerceu influência para a criação da paróquia de Lajedo, bem como para a sua independência política. Heráclio de Moraes do Rêgo, filho do coronel Francisco Heráclio do Rêgo (Chico Heráclio), era deputado estadual, grande proprietário de terras, além de exercer forte influência política na cidade de Limoeiro. Como Antônio de Sousa Vilaça gozava da amizade de Heráclio do Rêgo, fez um pedido para que este apresentasse na Assembleia Legislativa um projeto de lei solicitando a independência política do distrito de Lajedo, já que seu amigo tinha boa influência política.

Heráclio de Moraes do Rêgo apresentou o projeto de lei nº 66, solicitando a criação do município de Lajedo. Em 7 de junho de 1948 o projeto foi aprovado e decretado pela Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco.

O projeto de lei de emancipação política do distrito de Lajedo dá ênfase à forte economia do local. A localização estratégica, o número de habitantes e prédios, dentre outras vantagens que se enquadravam na lei de organização municipal, eram exigências para a criação de um município.

Em 24 de dezembro de 1948 o governador de Pernambuco sancionou a Lei nº 377, emancipando, então, Lajedo de Canhotinho,

Lei nº 377, de 24 de dezembro de 1948,
Cria o município de Lajêdo:

O Governador do Estado de Pernambuco:

Faço saber que a Assembléia Legislativa decretou e eu sanciono a seguinte resolução:

Art. 1º é criado o município de Lajêdo com os mesmos limites do distrito

Art. 2º revogam-se as disposições em contrário.

Palácio do Governo, em 24 de dezembro de 1948.

Ass:) Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho

Dirceu Ferreira Borges

Como comprovam os dados históricos, Antônio de Sousa Vilaça foi o principal líder que influenciou a emancipação política de Lajedo. No entanto, Antônio Dourado Cavalcanti teve sua parcela de contribuição nesse processo, conforme afirma Antônio Vilaça em seu livro Memórias.

Era deputado estadual Heráclio do Rêgo e a meu pedido ele apresentou à câmara projeto que se tornou vitorioso. A Lei 377, de 24 de dezembro de 1948, assinada pelo governador Barbosa Lima Sobrinho desmembrou o distrito de Lajedo do município de Canhotinho. No ano seguinte, a 19 de janeiro Guilhermino Virgulino de Sobral (meu pai) assumia as funções de primeiro prefeito do novo município. Justo reconhecer o trabalho do Dr. Armando Monteiro (sênior) ao tempo, também deputado estadual e do seu cunhado, o Dr. Antônio Dourado Cavalcanti, médico da localidade. (VILAÇA, 1978, p. 152).

Esses dados, embasados em importantes documentos históricos, são importantes para esclarecer alguns equívocos, os quais atribuem a independência política de Lajedo apenas ao trabalho do médico Antônio Dourado Cavalcanti.

Guilhermino Virgulino de Sobral, pai de Antônio de Sousa Vilaça, foi nomeado pelo governador prefeito interino no dia 12 de janeiro de 1949. Uma semana depois ele assumiu o cargo. Sua primeira ação como prefeito foi providenciar um prédio para o funcionamento da sede da prefeitura, mas não havia um local para instalá-la. Como ao lado de sua casa havia um depósito onde armazenava a safra, Virgulino resolveu desocupar o armazém para que a prefeitura funcionasse ali.

Os primeiros funcionários públicos nomeados foram os seguintes:

  • Tesoureiro: José Paulo Barbosa;
  • Secretário: José Vieira da Silva;
  • Agente arrecadador: Antônio Francisco Galdino;
  • Escriturária: Elizabete Gomes;
  • Arquiteto: João Antônio de Medeiros;
  • Fiscal geral: Cassimiro Carlos Barbosa;
  • Porteiro: Antônio Caetano dos Santos.
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